Fazia pouco
mais de um ano que eu estava sozinha, depois de ter terminado um relacionamento
absolutamente tóxico. De repente, meu celular acende com uma solicitação de
amizade. Fui ver quem era, mas não reconheci a pessoa. Vi apenas que tínhamos
uma pessoa em comum, com a qual também não tinha qualquer intimidade. Como a
carinha me agradou, acabei aceitando o convite por educação.
Dias após, eu
já nem lembrava que a havia incluído em minha rede social, recebi uma mensagem
privada. “Desculpa pela brincadeira com a Amália no outro dia”, iniciava a
conversa. Achei super estranha a colocação e de pronto respondi: “não estou
entendendo do que você está falando. Não tenho nada com Amália. Na verdade, só
a vi uma única vez”.
A partir daí
a conversa rendeu bem por horas a fio. Ela foi revelando o fim de um
relacionamento longo e tão traumático como o meu. Parecia o encontro de duas
almas ávidas por um pouco de amor e paz. Trocamos telefone e não demorou para
as chamadas se tornarem mais constantes e intensas. Marcamos de tomar um açaí
num local perto da minha casa.
Pessoalmente
ela era muito mais bonita. Vivos olhos esverdeados ornamentavam um rosto
delicado com uma boca bem delineada, que praticamente implorava por meus beijos.
Admito que era complicado não fixar os olhos ora naquela boca linda, ora no
enorme decote que – premeditadamente – ela usava. Naquele dia ela sabia
exatamente o que pretendia. E não era apenas tomar um simples açaí com uma
desconhecida com quem batia papo virtualmente.
Era uma
mulher muito interessante. E sabia disso. Tinha consciência de que transitava
entre a meninice e maturidade com uma maestria muito singular. Ao mesmo tempo
em que podia tratar de assuntos complexos, sabia exalar a leveza da juventude.
E isso era encantador nela. O tempo todo meus olhos fitavam-na, ainda que eu
tentasse desviar o olhar, havia uma força maior, quase um magnetismo que me
forçava a admirar aquela figura quase perfeita em minha frente.
Saímos do
açaí e fomos passear pela pequena orla próximo. Com passos lentos, nossa
intenção era mesmo a de aproveitar ao máximo a companhia. Com jeito faceiro,
ela provocava umas suaves trombadas na intenção de tocar em mim. Queria me
sentir de alguma maneira. Já próximo de nos despedirmos, sentamos num quiosque
que estava vazio. De repente, me assustei quando furtivamente ela tocou a minha
mão. Senti o rosto ruborizar, o sangue subir tão rápido que me esquentou a
face. Minha única reação foi a de abaixar o olhar e lançar um sorriso amarelo.
Embora não pareça, esse tipo de investida consegue me deixar absolutamente
tímida.
Caminhamos
até a minha casa. Ficamos na portaria do prédio esperando o motoboy que a
levaria para casa. Sentadas no sofá do hall,
o contato mais íntimo foi inevitável. Meu coração parecia querer saltar a
qualquer momento pela minha boca. Senti a minha circulação completar diversos
ciclos numa rapidez impressionante. Confesso que tive medo de ela me beijar - apesar
de ali eu já estar doida para sentir aquele beijo – e sermos flagradas pelo
porteiro curioso. Marcamos um jantar na casa dela no fim daquela semana. A moto
chegou e ela se foi.
A semana
seguiu numa lentidão só, apesar de nos falarmos o dia todo, todos os dias. Era
maravilhoso acordar com o “bom dia” daquela menina-mulher, um misto de anjo e
demônio. Ela preenchia meu mundo como há muito não acontecia. Finalmente chegou
a tão esperada sexta-feira.
Passei aquele
dia tomada de uma ansiedade sem tamanho. Um misto de sensações dominaram o meu
íntimo. Ao mesmo tempo em que ela era uma completa estranha, sentia que estava
indo ao encontro de alguém que há muito tempo não via. Arrumei minha mochila
com muito cuidado para não esquecer o essencial e fiquei paquerando o relógio
até a hora de sair.
Resolvi
vestir uma saia longa com blusinha de alça, toda em tom de vermelho. Como
sempre, o calor aqui é absurdo e já não estava suportando o peso dos velhos
jeans surrados.
Realmente
parecia que já nos conhecíamos há décadas. Não houve qualquer constrangimento
ou vergonha da minha parte. Me senti como se tivesse entrado na minha casa. Foi
impressionante.
Naquela noite
nem jantamos, tamanha era a vontade de nos sentirmos. Ela entrou para o banho e
eu me joguei sobre a cama. Uma das melhores sensações que já tive foi quando
ela saiu do banho e me veio acarinhar. “Isso tudo é pra mim? Nem acredito”,
disse sorridente. “Advinha”, respondi marotamente.
Virei-me para
recebe-la como se deve. Ela soltou a toalha e a puxei para mim, finalmente
colando minha boca naqueles lábios macios. Fizemos amor de uma forma única.
Nossos corpos, que nunca se tocaram, conheciam exatamente o quê e como o outro
gostava e queria. Liberamos fantasias, exercitamos fetiches e nos amamos sem
amarras, sem medo e com absoluta entrega. Coisa de amantes de longa data. Só
que, ainda estávamos nos conhecendo.
No dia
seguinte, tudo se repetiu com muito amor e respeito. Perdemos a noção do tempo.
Fui embora com o coração pedindo mais daquele universo de tormenta e calmaria
sexual.
No dia
seguinte, cumpri a agenda normal de um domingo de sol. Fui à praia e ao
churrasco de uma amiga que fazia aniversário naquele dia. Mal cheguei em casa,
tomei um banho e liguei pra ela. “Estou indo praí. Posso?”, rezava para ouvir
um sim. Peguei a moto e voltei para aquele ninho de loucuras e insanidades mais
deliciosas que já provei.
Jantamos,
conversamos, nos descobrimos mais. Falamos dos relacionamentos anteriores, das
feridas abertas, das sincronicidades que nos atraíam. O encanto era recíproco.
Não demorou para firmarmos o relacionamento.
Qual não foi
a minha surpresa ao descobrir que aquele quase sinônimo de perfeição havia
mentido para mim. Não demorou e a verdade veio à tona. Sou daquele tipo que
acredita piamente que “para um bom leitor, vírgula é texto”, como diz o ditado.
Em uma de
nossas conversas ao telefone, em tom de brincadeira, ela soltou: “você é a
minha namorada de fim de semana”. Confesso que o sangue ferveu na hora e tive
dificuldade de disfarçar o misto de insatisfação, raiva e decepção com a fala. “Como
assim? Tá querendo dizer que durante a semana você tem outra?”, retruquei meio
que mordendo a língua. Ao perceber o ato falho que cometera, ela tentou mudar
de assunto.
Outros sinais
foram aparecendo, mostrando que minhas apostas estavam erradas e que aquele
brilho que outrora havia em encantado não passava de ouro de tolo. Repentinamente,
minhas desconfianças após aquela ligação se firmaram. Sem motivo qualquer que
valesse uma separação, fui ferida da maneira mais vil que alguém pode ferir um
coração. Ela me abandonou sem dizer motivos contundentes, sem nem me permitir entender
qual fora meu erro – se é que incorri em algum -. Saiu da minha vida e voltou
para a ex, que tanto a decepcionara.
Prematuramente,
nosso relacionamento foi ferozmente abortado e o feto de um amor que já era
exemplo para todos que a conheciam foi lançado na sarjeta...
Enfim. A vida
é feita de escolhas e cada uma traz em si consequências das quais não podemos
fugir. Apesar do profundo baque emocional, consegui me recuperar e estou
seguindo adiante, enfrentando meus leões e superando obstáculos.
Não tive mais
notícias dela e algo me asserta de que ela também não andou buscando notícias
minhas. Se vamos nos reencontrar? Só Deus sabe. Mas, por ora, prefiro deixar
como está.
Vc nunca foi de final de semana... :'-( Vcs se perderam no caminho! Ela ainda deve amar muito vc.
ResponderExcluirIntenso ,e poxa fiquei torcendo para um final feliz ,mas creio que o final pode não ter sido tão feliz ,mais o percurso acabou sendo. A vida é assim,idas e vindas,o ato de conhecer o outro,de debruçar para esta sincronicidade nem sempre ocorre como esperamos . Algumas relações são como aquela frase . "Carpe Diem"
ResponderExcluirNem sempre os finais são felizes. Mas, toda história sempre traz aprendizados.
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