Desisti de me aposentar


Quando a gente passa por certas coisas na vida, é comum bater aquela sensação de que o jogo chegou ao fim e que não há mais nada a fazer. Refiro-me às decepções amorosas. Cada cicatriz aberta no coração pode nos levar a crer que a infelicidade é o caminho a seguir e que nada mais pode ser feito e a nossa autoestima vai à lona.
Porém, como diria um famoso personagem, “a vida é uma caixinha de surpresas”. Eis que na semana passada eu saí para o trabalho no que parecia ser apenas mais um dia de calor infernal numa capital do nordeste. Para chegar no trabalho preciso pegar dois ônibus. O trajeto é sempre tranquilo, graças a Deus, já que tenho inúmeras opções de linhas que me deixam bem próximo do trabalho.
Nesse dia, o calor estava realmente muito intenso. Ao descer no terminal de integração, quase fui à lua ao ver um casal vendendo geladinho. Meu paladar infantil promoveu dentro de mim um verdadeiro furor. Pedi um de amendoim e comecei a me deliciar ali mesmo. Logo meu ônibus chegou e subi rápido, empurrada pela multidão afoita.
A “confusão” não foi tão ruim, pois consegui de cara um lugar para sentar numa das fileiras de cadeiras altas. O carro seguiu e eu permaneci absorta nos pedaços generosos de amendoim do meu geladíssimo doce.
Ainda no terminal, subiu um grupo de pessoas que conversavam tão intimamente que logo julguei serem amigos ou colegas de trabalho, pelas piadas e brincadeiras que trocavam. Passaram alguns pontos e, de repente, subiu um grupo grande de passageiros.
Eu continuava distraída, mal percebendo o ônibus lotando até beirar o insuportável. De repente, sem querer, me deparo com aquela figura linda: morena, cabelos lisos, tipo índia, passando pela roleta e quase sendo imprensada pelos passageiros que permaneciam junto à catraca.
Minha surpresa foi perceber que ela passava no corredor como se viesse diretamente em minha direção. Fui desperta desse “choque” quando o rapaz do grupo de amigos a reconheceu e puxou papo, oferecendo-lhe o assento, que ela educadamente recusou. Ficou em pé por alguns minutos, mas notei que seu olhar buscava o meu, escondido sob os óculos escuros.
Num lapso, pensei que eu poderia estar enganada. Não era a mim que ela buscava. Mas a confirmação veio quando vagou um assento duas fileiras à minha frente e ela sentou. Ao sentar, vi que ela olhou para trás e a cena mais bonita que guardei foi vê-la pelo vão da poltrona da frente tentando olhar pra mim.
Nesse momento, infelizmente, tive que levantar e puxar o sinal para descer. Ainda vi que ela me filmou mais alguns instantes.
Desci do ônibus com a sensação de que ainda posso chamar a atenção de meninas bonitas. Uma massagem no ego que há muito não me acontecia. Não sou do tipo mulherão, aquelas deusas que incendeiam o mundo só pela presença. Ao contrário. Tenho meus momentos de beleza, mas aquele dia não era um desses.
No dia seguinte, para minha surpresa, acabei pegando o mesmo ônibus. E qual não foi a minha surpresa ao vê-la passar pela catraca e vir sentar-se justamente ao meu lado, mesmo tendo lugares vagos à minha frente.
“Boa tarde”, soltou educada. “Boa”, respondi. “Que calor é esse que não alivia, né?”, iniciou a conversa. Dali em diante conversamos um pouco já que meu ponto não demoraria a chegar. Dessa vez, tive tempo de dar meu cartão a ela. “Hummmm. Você é massagista? Adorei. Vou te ligar, sim. Prometo. Tenha um bom trabalho”, se despediu.
Mais uma vez, desci com o sorriso de orelha a orelha. Uma dificuldade de me conter. Afinal, não é todo dia que belas moças simpáticas puxam papo comigo depois de um delicioso flerte no busão kkkkkkkkkkkk.
Aguardemos as cenas dos próximos capítulos. Afinal, depois disso tudo, eu realmente desisti de me aposentar da vida amorosa!

Comentários

  1. Se aposenta não amiga. A vida ta cheia de delícias assim. Não te imagino tecendo tricô...kkkkkkk. Grande abraço.

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