Sim, eu tenho o pé na senzala!


Eu tenho o pé na senzala,
Pois é naquela ala em que a vida acontece.
Naquelas paredes muito se padece,
Mas também muito se agradece.

Há música, alegria e dança.
O povo negro nunca se cansa
De enaltecer a esperança de uma liberdade
Colorida com a aquarela da vida.

É com orgulho que me compactuo
Com este povo preto, de negritude nagô!
Filhos de Iansã, Yemanjá e Xangô,
Sambamos todos ao som do tambor e do agogô!

Com eles aprendi a ser simples, fervorosa e aguerrida.
Como aquele povo, também luto pela vida.
Meu dia a dia não tem passagem só de ida,
Nessa montanha-russa, aprendemos a guerrilha.

Naquela ala da fazenda, água ardente era até prenda.
Ajudava a lavar em torpor as cicatrizes
Do capitão do mato quando preparava dos perdizes a tortura.
Cada açoite reforçava no couro a cordura.

Sim, eu tenho o pé na senzala!
Viver na casa grande é muito sem graça.
Tem comida e gente branca incolor.
Tudo muito inodoro e insípido.

Na casa grande vida não há.
As máscaras de corações insossos,
Que comem a carne e roem o osso,
Pensando que são realmente grande colosso!

Viver com essa gente de plástico
Gera no íntimo o verdadeiro asco.
Por isso digo com a voz retumbante:
Sim, eu tenho o pé na senzala!


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