Serra da Miaba: que lições aprendemos neste lugar?

No mês de julho deste ano (2019) eu tive uma oportunidade ímpar de repensar a minha própria vida. Fui conhecer a Serra da Miaba, na minha primeira trilha em terras sergipanas. O lugar é lindo, apesar de ser considerado o pior local para se encarar trilhas na selva, ainda mais para principiantes.

Eu só descobri desse passeio no sábado já tarde da noite. Detalhe: o ônibus sairia de Aracaju no domingo, às 6h da manhã. Como era providência divina, consegui uma vaga de última hora.

Acordamos bem cedo, de madrugada mesmo, a fim de não perdermos a viagem. Chegamos bem antes do horário programado e conseguimos embarcar sem maiores complicações.

A viagem seguiu tranquila até o pé da serra. Assim que descemos, o guia responsável pelo grupo deu as orientações iniciais e nos apresentou ao representante dos bombeiros, que seguia sempre atrás da equipe. Mal sabia eu que ele seria meu maior anjo da guarda nessa caminhada. Obviamente, a pessoa aqui não estava preparada para a empreitada: trajava calça jeans, sapatilha e T-shirt.

Mal entramos na serra e eu já sentia os impactos do lugar. Logo meus braços começaram a mostrar manchas vermelhas e o cansaço começou pesado. Antes que chegássemos à metade do caminho, minhas pernas tentaram me trair e voltei a ter a mesma sensação de perda de força que tive em 2016, quando tive uma paralisia parcial das pernas. Aquela sensação de tremor e falta de equilíbrio começava a me amedrontar novamente.

Parei, junto com meu “guia particular”, e sentei numas pedras. Bebi água e comi uma maçã, por sugestão dele, que pensou que poderia ser desidratação devido ao calor. Não tinha contado sobre a paralisia. Descansamos um pouco e retomamos a caminhada, desta vez com a passada mais lenta. Depois de alguns minutos, finalmente chegamos à cachoeira da Miaba.

O terreno é bastante inclinado e pedregoso. O clima pode se tornar hostil a qualquer momento, quer seja pela chuva e frio, quer seja pelo sol forte e calor. Tudo pode mudar num piscar de olhos.

Nos deleitamos na água gelada e forte da cachoeira. Alguns grupos já estavam se banhando e descansando sobre as pedras. Os mais afoitos ou “corajosos” se lançavam em saltos perigosos da pedra superior ao fundo do pequeno lago onde todos mergulhavam e nadavam sem maiores medos.

Ali, nós almoçamos os sanduíches e suco de jenipapo e o restante das maçãs de sobremesa. Estiquei meu corpo já bem cansado sobre as pedras e pude ter a sensação mais estranhamento maravilhosa que tive até ali: sentir a troca de energia com a natureza. É algo tão surreal, que faltam palavras para descrever. Tipo de coisa que só vivendo para saber.

Logo, recolhemos as coisas e partimos pela mesma trilha de volta. Dizem que o retorno é mais rápido que a ida. Para mim, não foi bem assim. Afinal, depois de tantos mergulhos e jatos fortes de água gelada nas costas e na cabeça, meu corpo já buscava um relaxamento e não mais ser exaurido pelo esforço físico.

Até aqui, querido leitor, você só acompanhou a descrição desta aventura e já deve estar se perguntando: a que lições o título se refere?

A principal delas é que a nossa vida é feita de altos e baixos, mas que toda dificuldade é superável. Basta a gente ter determinação, obstinação e renovar a fé em Deus diariamente.

Poder admirar a paisagem da Serra da Miaba e chegar no oásis da cachoeira é uma recompensa sem tamanho. E assim é a caminhada pelas trilhas da vida. Nem sempre tudo irá correr bem, no equilíbrio perfeito. Pedras, inclinações, alterações atmosféricas e intempéries sempre irão existir. Cabe a nós, porém, termos sabedoria para poder passar por cada momento de dificuldade sem nos deixar sucumbir.

Teremos nossos maus momentos. Mas eles só duram o tempo exato de aprendermos a lição oferecida. Ajuste suas antenas para poder entender as entrelinhas do que é proposto.

No entanto, teremos momentos memoráveis também com direito a água fresca, forte e boa para revigorar as forças . Celebre cada um deles, cada conquista, cada vitória como se fosse o único da sua vida. Curta o momento, guarde na memória esta sensação de êxtase.

De cada capítulo da sua vida, busque extrair o ensinamento dado e aplicar o conhecimento absorvido. Desta forma, você acaba fazendo o juízo de valor mais adequado e percebe que só cometerá os mesmos erros na vida se – e apenas se – quiser.

Subir e descer aquela serra aumentou minha percepção sobre mim mesma e minhas capacidades e limitações. Um exercício que recomendo para cada um que busca pelo autoconhecimento e autolibertação.