O Ritual




A coisa mais difícil era eu conseguir tirar férias junto com minha namorada. Finalmente, este sonho foi realizado e resolvemos passar uns dias num chalé numa região serrana. O lugar é lindo. Mata virgem devidamente preservada, o que garante uma temperatura fria, mas agradável, durante o dia.
O chalé é lindo também. A madeira de lei dá a ele um ar rústico quase medieval. Poucos móveis, apenas uma cômoda e um guarda roupas no quarto; lustres enormes se encarregam da iluminação e claridade do ambiente, a cama de casal coberta com uma colcha de pelúcia bem aconchegante e travesseiros grossos bem macios. No canto da sala uma lareira instiga minha imaginação a uma noite romântica para iniciar as tão sonhadas férias nas montanhas. Uma enorme mesa completa a decoração principal. Tudo muito prático, mas bastante intimista. Realmente o nosso sonho de consumo para firmar nosso relacionamento.
Já estamos juntas há mais de um ano e sempre estabelecemos como prioridade na relação o diálogo. Nos demos abertura desde sempre para falarmos sobre tudo. Dos assuntos mais bobos ou delicados até nossos fetiches mais insanos, para não dizer bizarros. E, numa dessas conversas, focamos nos fetiches dela. A mente fluiu como água numa nascente e resolvemos experimentar algo mais inusitado.
“Amor, encontrei nosso lugar!”, gritou ela do quarto que fizemos de escritório e de onde ela trabalhava. “Que maravilha, bebê!”, respondi da cozinha, já me dirigindo ao encontro dela para ver as fotos do chalé. Preparamos tudo o que julgamos necessário para a viagem e no dia seguinte à minha liberação subimos a serra.
Após a parte protocolar e burocrática na recepção, fomos direto para o que seria nosso cenário de amor perfeito. Desfizemos as malas, e só ali notei que ela carregava um bom volume a mais do que havíamos planejado. “O que é isso, vida? Como você trouxe tanta coisa e eu não vi?”, falei espantada. “Faz parte do meu show”, respondeu me lançando um sorriso maroto e a piscadinha mais sensual que ela sabe fazer.
Seguimos o dia com a programação do lugar que incluía passeios a cavalo explorando a região e banho numa nascente de águas termais e curativas, o que já contribuiu para iniciar a desintoxicação da vida na cidade grande. Almoçamos no salão principal naquele dia e retornamos para um descanso merecido na cama fofinha do chalé.
Acordei já de noite sentindo o calor da lareira acesa. Ela já estava esbanjando disposição e começamos a nos beijar carinhosamente. De repente, ela pega a tal mala misteriosa e saca de lá uma comprida faixa de seda vermelha. Se aproxima de mim e venda meus olhos. Eu fico sem reação de fato e apenas consigo sorrir de nervoso. Vendar meus olhos aumenta meu tesão astronomicamente e ela já sabe disso.
“Confie em mim”, ela sussurra em meus ouvidos. “Não vou te fazer nenhum mal”, ela tenta me convencer. Me levanto da cama e sigo seus passos. “Encoste-se e deite-se devagar”, ordena. Ela levanta meu braço direito pondo-o sobre minha cabeça e sinto algo grosso fixando forte em meu pulso. Sinto o forte cheiro de couro cru. “O que é isso, amor?” perguntei meio nervosa. Sem dizer nada ela repete o movimento com o braço esquerdo. Então, afasta minhas pernas e as prende da mesma forma. Fico imobilizada e começo a me sentir vulnerável e totalmente indefesa. O frio na barriga é inevitável.
Ela me beija a boca e acaricia meu corpo por baixo do baby doll. Sinto o cetim esfriar na pele, apesar do suor nervoso começar a escorrer. “Lembra daquela vontade que eu tinha?”, diz ela com uma voz quase ameaçadora. “Sim”, foi só o que consegui dizer. “Hoje você não escapa”, devolveu sarcasticamente. De repente, encolhi minha barriga ao sentir que ela rasgava minha roupa. “Isso. Desse jeitinho mesmo”, dizia.
De supetão, ela arranca a venda dos meus olhos. “Quero que você também veja”. Tento ajustar logo a visão ao ambiente na penumbra e me espanto ao vê-la trajando uma capa de veludo vinho com capuz e, por baixo, um espartilho de couro preto. Na cintura, a bainha de um punhal feita de couro preto com detalhes entalhados em prata. Meu cérebro entra em conflito sem saber se admira aquela mulher sensualmente medieval ou se dispara tensão e cargas de adrenalina pelo meu corpo. Fico sem reação, mesmo sentindo o suor escorrer.
“Me solta, amor. Tá muito apertado”, balbucio com a voz um tanto trêmula. “Cale a boca! E pare de me chamar de amor”, ordena quase seca. “Não era isso que eu tinha em mente quando você me contou dos seus fetiches”, tentei argumentar, sendo calada por um tapa na cara bem ardido. Esbugalhei os olhos de pavor com a potência do tapa. Ela riu insanamente. “Melhor ficar quietinha ou vai ser punida pela rebeldia”, olhava fixamente nos meus olhos enquanto falava baixinho.
“Hoje você vai me dar prazer de uma forma diferente. Vou gozar ao meu modo com a sua dor”, falou em tom mais forte do que o habitual quando brigava comigo por ciúmes. Como a blusa do baby doll já tinha sido rasgada, ficando suspensa apenas pelas alças nos meus ombros, ela terminou de afastar o tecido e se virou de costas pra mim, afastando-se um pouco do meu campo de visão.
Apenas a luz do fogo na lareira iluminava e aquecia a sala. Pela janela uma forte chuva caía, trazendo um pouco de frio. Mas eu já não sentia a temperatura de nada. Apenas questionava o que se passava naquela mente mirabolante, enquanto sentia meu sangue evaporando junto com o suor.
De repente, ela surge de cabeça baixa carregando um candelabro de bronze nas mãos com três velas grandes já bem derretidas. Coloca o objeto sobre uma bancada, pega uma das velas e se aproxima. “Vo...você não....peraí...pera....amor...”, o medo chega com força em minha mente enquanto ela emborca a vela fazendo a cera quente pingar no meu mamilo. Não consigo controlar e solto um grito de dor. “Muito bem. É desse jeitinho que eu quero. Doeu?”, pergunta cinicamente. E volta a pingar a cera no outro mamilo enquanto eu tento recuperar a respiração. Solto outro grito de dor. Ela ri deliciosamente satisfeita com minha vulnerabilidade.
A sessão sádica com a vela parece interminável. Ela emborca aquela haste e deixa a cera derramar fortemente entre meus seios. Na hora minha pele fica vermelha com o choque do calor do líquido ardente. O pavor em meus olhos parece inspiração para aquela feiticeira deliciosamente maquiavélica. Sem perceber sinto algo escorrer por entre as minhas pernas. “Não acredito. Eu estou excitada com tudo isso. Deus do céu!”, penso com meus botões.
Qual não é a minha surpresa ao perceber que ela tinha notado o líquido escorrendo de mim. “Ora, ora. Parece que a dor não apraz só a minha insanidade, não é mesmo?”, gargalha aproximando-se do meu rosto como se fosse me dar um beijo forte na boca. “Mas isso não foi permitido. Contenha-se ou sofrerá as piores consequências. Aqui, só quem tem o direito de sentir prazer sou eu. Entendeu?”, ordenou em tom mais que ameaçador. “Desculpe, senhora. Não tive a intenção de ofendê-la”, retruquei em tom desafiador. Como resposta, mais um tapa na cara e a mão firme no meu pescoço encenando um enforcamento. “Nossa”, engoli em seco quase sem ar e sentindo o orgasmo se aproximando com força.
Instintivamente comecei a me debater sobre a mesa, já demonstrando forte irritação. Estanquei o movimento quando algo reluziu em sua mão. O tinir da lâmina no aço interno da bainha me fez interromper qualquer tentativa de pensamento ou movimento. “Você não está sendo uma boa menina. Não está se comportando como deveria”, falava lentamente como saboreando cada sílaba e apresentando-me seu brinquedinho novo. A navalha absolutamente amolada dos dois lados me disparou uma descarga de gelo pela espinha. Engoli em seco, enquanto tentava recolher meu corpo para dentro da mesa, sem muito sucesso.
Lentamente ela encostou a ponta gelada do punhal, começando a desenhar os detalhes do meu rosto. Embebida de medo, meus olhos não sabiam se seguiam aquele fio prateado ou se miravam a ela, buscando captar seu próximo movimento ou intenção. Ela também não parava de me fitar os olhos cuja expressão oscilava entre o medo e os picos de pavor.
Ela desceu pelo meu corpo, chegando em meu colo onde fez menção de aumentar a pressão do punhal na minha carne. “Não faz isso. Eu imploro, senhora. Não é meu sangue que você quer, é só meu pavor que te alimenta o prazer. Não faz isso. Por favor”, eu disse quase chorando de medo de ser fatalmente cortada.
Fazendo pouco caso da minha aflição, ela desceu o punhal pela minha barriga, cortando o short do pijama ao meio. “Hummmmm. Você está uma delícia babada desse jeito”, refastelou-se ao me olhar a intimidade. Terminou de arrancar o que sobrou do tecido e lançou-se numa chupada espetacular até sentir meu líquido quente escorrendo na sua cara e minha respiração ofegante de gozo e desespero.
Nesse momento, ela deu uma risada longa e gostosa, típica de quem havia conquistado o que tanto desejava. Guardou o punhal na bainha em sua cintura e me beijou a boca apaixonadamente, soltando as amarras dos meus pulsos e pernas. Aliviada do alongamento forçado, deleitei-me em seu abraço carinhoso até que meu corpo se acalmasse um pouco. Afinal, nossas férias estavam só começando.





Comentários

  1. Uauu q tooop esse conto,amei principalmente o final 👏👏👏👩‍❤️‍💋‍👩🏳️‍🌈

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  2. ...fiquei tenso kkkk fui envolto pelo enredo e como ficou a lacuna do que de fato vcs conversaram como fetiches, a super dominatrix foi intensa pela supetão de como se deu kkkkkk
    Encenar o papel na dualidade do fetiche, mas tbm pela sua própria segurança deixou o leitor a flor da pele, mas gozamos da resolução desse erótico e intenso BDSM.

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  3. Que conto! Um misto de tensão e desejo. Sensacional !

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  4. Um turbilhão de emoções!����������

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  5. Maravilhoso!
    Ótima sensação uau

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  6. Fiquei fascinada pela riqueza de detalhes e ao mesmo tempo mistério do que estaria por vir, final surpreendente!

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