Segunda chance: Razões por quê devemos apostar em quem nos feriu


“Quem dentre vós não tiver pecado, que atire a primeira pedra”. Com esta célebre frase do livro de João, inicio esta reflexão. Dar ou não uma segunda chance a quem já nos feriu e por quê fazê-lo?

Quando estamos feridos emocionalmente, colecionando mágoas e tristezas, fica mesmo complicado olhar para nosso agressor com olhos angelicais de amor incondicional. E falo de forma geral, independente de quem seja esta pessoa: irmãos, pai, mãe, filhos, namorad@s, cônjuges, ou seja lá quem for.

Se estamos feridos, queremos mesmo é revidar, dar o troco, devolver na mesma moeda. Afinal, “minha mãe não me criou para levar desaforo pra casa”, é o que muitos de vocês irão dizer.

E não está de todo errado. Devemos, sim, nos defender de todo e qualquer ataque, principalmente os gratuitos.

Mas, e a tal da segunda chance? Damos ou não? E, se dermos, qual a probabilidade de que venhamos a ser maltratados novamente pela mesma pessoa?

Esta é uma situação que mexe muito com o departamento interior das crenças que arraigamos em nós. Afinal, costumamos ouvir, por exemplo, que “voltar com ex é o mesmo que comprar um carro que já foi seu. Você já conhece todos os defeitos e sabe que vai dar problema”.

Entretanto, ofertar a outra face é uma atitude altruísta e que diz mais respeito a você que ao seu algoz. A empatia deve ser sua e exercitada sempre que você considerar que vale a pena tentar mais uma vez. Lembre-se: você também erra.

Alguma vez, você já parou para pensar em quantas “segundas chances” você já deu? Sim. Porque o mais corriqueiro é pensarmos em perdoar a pessoa diante de mágoas grandes como traições sexuais ou mesmo quando se chega às vias de fato (agressões físicas). Lembrando que a intensidade ou o tamanho de cada ferida é bem relativo de indivíduo para indivíduo.

Mas, e as pequenas coisas do dia a dia? Quantas mensagens lidas e não respondidas a tempo você deixou passar? Quantos convites seus foram rejeitados logo no começo do namoro, mas que você aceitou sem pestanejar quando partiu d@ crush? Quantas vezes você precisou de um ombro amigo, mas as agendas estavam sempre cheias? Quantas vezes você não foi prioridade no dia de alguém e, mesmo assim, fez do outro prioridade na sua vida?

Se pararmos para refletir um pouco, vamos perceber que sempre estamos dando “segundas chances”. A grande questão é: até que ponto isso vale mesmo a pena para você e não é apenas uma forma de saciar a sua eterna carência?

O exercício da empatia é um dos maiores desafios da atualidade. Parece que as pessoas, cada vez mais, estão se escondendo dentro de conchas hermeticamente lacradas a vácuo. Não se mostram mais. Não se permitem aproximação mais íntima – e não estou falando de sexo, ok?. Parece que o medo de mostrarem suas fraquezas e vulnerabilidades fica mais forte a cada dia.

Conhecer o outro tem se tornado uma tarefa cada vez mais hercúlea e desgastante. Perdemos tempo, energia, sono, vigor e mais um bocado de fontes positivas ao tentar penetrar no universo de alguém. Em troca, pouco ou nada ganhamos. Não recebemos compreensão, carinho e nem respeito, afinal, inadvertidamente ou não, estamos entrando em território de terceiros.

Por melhor que sejam as nossas intenções em tentar entrar naquele terreno, acabamos sendo farpados de alguma maneira. E isso não é diferente se, ao contrário, tentamos trazer alguém para o nosso território.

Se a terra foi entendida como fecunda,  acabamos por deixar levarem todo o nosso suprimento interior de uma vida e somos taxados de trouxas. É só baixar a guarda um instantinho e logo você acaba em aridez.

Portanto, dar uma segunda chance àqueles que, de alguma forma, te feriram requer entender se há mudanças de atitudes e comportamentos tanto sua como da outra parte.

Explico.

Se você é do tipo que acredita piamente que não vale a pena, de forma nenhuma, permitir uma remissão ao outro, reavalie. Você nunca precisou ou desejou que alguém te perdoasse por uma falha cometida por ti, seja ela de que gravidade for?

Por outro lado, se você é do tipo que tudo perdoa, também repense seu conceito. Aceitar pedidos de desculpas reiteradas vezes pode fazer com que o outro te veja como alguém absolutamente permissivo e manipulável.

Tentar se colocar no lugar do outro depois que a tempestade passa e as emoções esfriam, pode ser o melhor caminho para ver se é válido mesmo dar uma nova oportunidade para a construção dos relacionamentos, sejam eles de que formato forem: amizades, relações familiares, namoro ou mesmo só aquela ficada básica de todo fim de semana.

Tenha sempre em mente que seu amor próprio e sua autoestima devem estar bem trabalhados e elevados, pois isso irá te ajudar a encerrar ciclos viciosos com aquelas pessoas que levam o sadismo como forma de vida fora das quatro paredes. Sim. Esse tipo de gente existe. Alguns os chamam de “pessoas tóxicas” e elas são capazes de causar grandiosos estragos no íntimo de quem convive longamente com elas.

O autocuidado é a melhor ferramenta que você pode ter nesse momento. Ele te leva a buscar o autoconhecimento e, quase num efeito dominó, você atravessa barreiras internas enormes para se elevar. O melhor de tudo é que, ao olhar para o seu EU anterior, você aprende a compreendê-lo, a amá-lo e perdoá-lo, mas entende que não pode mais ser aquela pessoa.

Assim, dar uma segunda chance a qualquer outra pessoa do teu ciclo se torna muito fácil e muito mais valioso. Porém, tenha sempre acesa em você a máxima: “tudo gera reciprocidade”. E, para encerrar, vou deixar esse ensinamento fantástico: “quando o amor não estiver mais sendo servido nesta mesa, simplesmente se retire”. 

Comentários

Postar um comentário