Amor sem fim

 


Sabe quando a vida te apronta surpresas realmente surpreendentes? Pois é. O que vou dividir com vocês é real e chega a ser bastante perturbador. Mas, calma! Não se trata de uma história de terror ou algo do tipo. Só uma história que ainda não sei bem como termina, mas que vivo intensamente a cada dia.

Eu ainda estava na faculdade quando nos conhecemos. De cara ela chamou minha atenção com aquele sorriso iluminado. Ela estava numa rodinha conversando aleatoriamente com alguns colegas em comum. Me aproximei somente na intenção de tomar parte da conversa, mas fui impactada fortemente com a forma como ela expunha sua opinião contundente sobre qualquer coisa. Como digo: inteligência é afrodisíaco.

Tentei não deixar que ela notasse minha feição abobada, mas parece que não surtiu muito efeito. Comecei a perceber que ela sempre dava um jeito de me olhar bem fixamente nos olhos. Mal sabia eu o que o destino tinha reservado para nós.

O tempo foi passando. Os encontros nos corredores da faculdade foram ficando mais frequentes, assim como os almoços e os trabalhos na biblioteca, mesmo estando em cursos diferentes: ela estudava Biologia e eu Design de Interiores.

A amizade foi se firmando, embora eu tivesse enorme dificuldade em conter o que estava sentindo. Queria sempre estar sempre na presença dela e dava meus pulos para conseguir curtir pelo menos cinco minutos em sua magnífica presença. Afinal, ela estava namorando e eu era casada.

Eis que a vida deu um jeito de nos afastar após a formatura. Junto, vieram ambas as separações. Porém, nunca perdemos o contato. Foi quando percebi que não havia distância entre nós. De repente, aquele sentimento perturbador foi se fazendo maior e veio a primeira surpresa. Num final de tarde, despertei com o telefone tocando. “Oi”, disse aquela voz bem timidamente. Na hora, uma onda de gelo percorreu minha espinha: em meu raro sono da tarde, me pus a sonhar com ela. “Tudo bem?”, respondi meio atônita com a coincidência. “Tudo, sim. Te acordei, né? Desculpa”, ela percebeu a minha voz ainda pesada pelo sono. “Não. Já estava na hora de acordar mesmo. Até te agradeço pelo serviço de despertador. Mande as ordens”, brinquei tentando deixa-la mais confortável.

“Faz dias que estou para te ligar, mas pensei muito e acabei desistindo várias vezes. Só que hoje, não sei por quê, não consegui resistir. Eu preciso te falar isso ou vou acabar enlouquecendo”, disparou aflita. “Calma, moça. Respira e me conta com calma o que está acontecendo”, tentei não deixar me afetar pela aflição naquela voz.

“Eu...eu...quero muito te ver. Ou melhor, eu PRECISO muito te ver de novo”, o nervoso das palavras a faziam falar quase em alta velocidade, num misto de gagueira e afonia. “Tá bem. Calma. Você deu sorte. Estou de folga nesse fim de semana. Chego aí na sexta à noite”, foi só o que consegui dizer. “Certo. Te agradeço muito. Mas nem pense em ficar em hotel, tá? Venha aqui pra casa”, e desligou.

Aquele telefonema me deixou perturbada a semana inteira. Mil pensamentos me tomaram as horas até a viagem, variando desde as coisas mais simples até às mais absurdas e improváveis. Claro que ter uma mente mirabolante não ajuda muito nessas horas. Quando chegou a tão esperada sexta-feira, nos falamos algumas vezes durante o dia. Não achava ruim ela me monitorar, desde sempre ela demonstrava um cuidado diferente comigo e isso me agradava.

Finalmente cheguei na casa dela. Quando ela me viu, já foi logo se lançando em meus braços num abraço forte, quase sufocante, como se a vida dela dependesse daquela energia que eu carregava. Ficamos nesse abraço longamente, sentindo nossos corações afinarem o pulsar. Realmente algo inesquecível. Nunca tinha abraçado alguém daquela forma.

O jantar estava pronto, a mesa enfeitada como se ela estivesse esperando uma grande celebridade internacional. Coloquei a mochila no quarto dela e fui tomar um banho rapidamente, enquanto ela ajeitava os últimos detalhes do jantar especial.

Durante o jantar, tratamos apenas de amenidades, colocando as fofocas em dia, pois fazia tempo que não nos víamos. Quando terminamos, ela abriu um vinho e sentamos no sofá. Foi quando eu não aguentei mais a agonia da curiosidade e lancei. “Então....eu fiquei muito preocupada com a forma como você me ligou. Até quis te ligar durante a semana, mas preferi não mexer com o que eu não conseguia entender e resolvi esperar até chegar aqui. Fala. O que está acontecendo?”, disse segurando a mão dela, que já estava trêmula.

“Desculpa ter te ligado daquele jeito”, começou toda sem graça, olhando para o chão. “Mas eu precisava dividir isso com você e só com você, e não podia ser por telefone. Não tem um jeito certo de dizer isso...pelo menos eu não conheço...”, e se lançou diretamente num beijo quente e apaixonado, ao qual eu correspondi de imediato. “Não sei como aconteceu, mas estou apaixonada por você”, sussurrou entre os beijos.

Quando nos separamos para respirar, a única coisa que eu consegui dizer foi: “Uau! Eu sempre fui apaixonada por você. Desde aquele dia em que te vi conversando com o pessoal na faculdade. Lembra?”. Isso foi o suficiente para revelarmos sentimentos que durante todo esse tempo insistimos em guardar por receio do que a outra iria pensar.


Naquela noite e em todo o fim de semana que passamos juntas, nos amamos de uma forma como nunca tinha feito na vida. Era, de fato, algo único. Os toques, a troca de olhares, a maneira como nos buscamos o tempo todo. O sexo foi fantástico, como se nossos corpos se conhecessem, mesmo sem nunca terem se tocado. Uma não precisava indicar nada para a outra. Era intenso, suave, forte e delicado ao mesmo tempo.

Mesmo com uma distância física considerável entre nossas residências, assumimos o namoro. E cada encontro era melhor do que o anterior. A gente se conhecia e se reconhecia em cada detalhe. E era maravilhoso sentir tudo aquilo.

Não demorou e veio a primeira pancada, rachando a minha fortaleza interior. Ela conhecera uma outra mulher e se viu dividida entre mim e ela. Como a outra estava muito mais presente no cotidiano, acabou levando a melhor. Elas firmaram um relacionamento sério e receber essa notícia foi a primeira facada em meu peito.

Com o objetivo de apenas me libertar dela e matar esse amor que eu alimentava, devolvi tudo dela que estava comigo: cartas, documentos, fotos, roupas e até alguns presentes. Quis me livrar de uma história magnífica e ao mesmo tempo dolorida demais para ser suportada. Ledo engano.

Tive que buscar ajuda profissional para superar essa separação e entender o que estava acontecendo e por quê estava acontecendo daquela maneira. A gente se amava demais, poxa! Não justificava ela ter feito aquilo comigo, muito embora ela sempre me dissesse que precisava viver aquele relacionamento. Minha ignorância, alimentada pela rejeição, não me permitia entender o que aquilo significava.

Foi quando me deparei com uma terapeuta especialista em regressão de vidas passadas. Numa das sessões, acabei voltando no tempo. O ano era 1887, eu me via na roupagem de um homem bem apanhado e de família nobre. Ela era minha amante. O choque veio em saber que minha esposa era a mulher com quem ela estava vivendo no tempo presente.

Minha esposa acabou por descobrir nosso romance e, para se vingar, armou uma arapuca para mata-la. Pegou-nos em flagrante e partiu para cima dela com uma adaga absolutamente afiada. Para protege-la, lancei-me na frente da esposa ensandecida, recebendo o golpe fatal. Caí nos braços de minha amada, jurando que a encontraria em breve pois nosso amor era infinito.

Saí daquela sessão totalmente fora de mim. Até então, era um tanto cética com relação a terapias e achava esse negócio de vidas passadas um absurdo sem tamanho. No entanto, reviver aqueles momentos, em especial a dor da facada, mudou minha forma de ver a vida e algumas interações que eu passava.

Não contive a ansiedade e liguei pra ela imediatamente contando o que aconteceu durante a sessão de terapia. Ela, muito serenamente, me revelou que já tinha visto aquela cena em sonho e de uma forma tão real que havia acordado chorando na madrugada e gritando meu nome.

Essas manifestações, de alguma forma, me trouxeram um conforto ao espírito. Não vou mentir. E fez com que nos aproximássemos cada vez mais. Vivemos encontros furtivos tanto na minha cidade como na cidade dela, mesmo ela estando com a atual esposa.

Mas o caso mais emblemático de tudo isso foi o fim de semana que tivemos antes da festa de casamento dela. Preparei minha casa para recebe-la como se esperasse uma princesa. Proporcionei a ela incríveis momentos, os quais lembro com carinho e uma saudade doída até hoje.

De forma subliminar, para os convidados, ela deixou a mensagem de que estava casando, mas que seu amor sempre será meu. Mesmo tendo essa certeza, a esposa a aceitou e estão juntas....por enquanto.

Espero que chegue logo o dia em possamos nos encontrar e viver esse amor da forma que tem que ser: em completude e sem interferências ou interrupções.

 

 

 

(conto baseado na história de Honey e Chameguinho, desejando que o amor as reúna de fato)

 

 

 

 

Comentários

  1. Uau...!!
    Esse conto prendeu... e muito a minha atenção!!
    Parabéns... 🌷!!
    👏👏✨

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  2. Só tenho a lhe agradecer por proporcionar leituras que extasiam meu ser 👏👏👏👏🍷

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  3. Realmente é um conto e tanto...
    Eu simplesmente amei...👏🏻👏🏻👏🏻

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  4. Caracasssss ... Embarquei na história! Torcendo para o breve chegar 🙏

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