Tempo, seja meu companheiro

A vida pode ser cruel com a gente.
Chega a ser indecente a forma como
pode ser condescendente.
Simplesmente deixa acontecer.

Com malvadeza, arranca o doce
da boca da criança, deixando-a
sem esperança.
Quanta aspereza!

Com tom de quem nos despreza,
diz ao Tempo que aja com destreza
e providencie sem demora essa limpeza,
arranque para fora o que já não faz hora.

Tempo, Senhor de tudo o que é,
remédio para toda cura,
sabedoria para toda desventura,
apenas peço que seja meu companheiro.

Tenha de mim a dó que a vida não teve.
Dê-me o afago de que preciso.
Não, não seja meu inimigo nesse momento.
Ajude-me a sair logo deste tormento.

Já que não posso ter quem desejo,
me leve para as águas profundas do Tejo,
onde possa afogar num lampejo
o sentimento que ainda cortejo.

Sim. Leve-se às aguas para que ao
sentir o seu frescor, vá embora logo esse torpor.
Preciso evadir esse horror que me toma
sem temor.

Traga-me de volta ao esteio de antes.
Ali me era muito reconfortante.
Dispense as imagens, projeções e falsas recordações.
Estagne por ora todas as emoções. Chega de decepções!

Tempo, Senhor de tudo o que é,
remédio para toda cura,
sabedoria para toda desventura,
mais que nunca seja meu companheiro.

Atenda a este humilde lamento
de um coração já cansado de tanto detrimento.
Ponha em seu lugar uma boa massa de cimento
e vamos dar uma pausa boa em tanto sofrimento.

Quando essa massa secar,
para o seu lugar cada item vai retornar.
E, com um pouco de sorte,
nunca mais voltarei a amar.








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