A última despedida


Naquela noite cheguei de surpresa

Na janela debruçada estava

Papeando ao léu

Talvez pedindo a Deus do céu

Que tirasse do coração o que a amargava

 

Tentou disfarçar a alegria com a minha chegada

Mas ainda sentia que naquele peito fazia morada

Descartei minha decência e sem clemência

Me pus sua mulher em total inocência

 

De todos os momentos que tivemos, aquela noite foi o pior pesadelo

Não havia mais busca, toques insanos, não dançamos sob os panos

Seu corpo rapidamente se aliviou

E sequer saudade para matar procurou

 

Rispidamente foi ao chão

Nada ofegante restou

Levantou-se e cobriu-se junto ao pequeno

Que com os anjos dormia

 

Na manhã seguinte, mal me encarou nos olhos

Foi-se à escada e, ali sentada, constantemente repetia:

“Não sou mais a mesma com você”

Finalmente morria o último suspiro de esperança

De reatar aquela aliança

 

Entrei no carro e não olhei para trás, em definitivo

Nada me faria voltar àquele ninho

Onde tantas noites me deitei em espinhos

Tentando curar meu amor que sangrava em desalinho

 

Mais um momento marcante

Vendo morrer as amantes

Que já não ardem como antes

E, como no inferno de Dante, 

A última despedida desfaleceu.

Comentários

  1. Uau... Uma das melhores!

    ResponderExcluir
  2. Despedidas nunca foram fáceis, sentia lá no fundo que existia muito amor que foi adormecido pela mágoa das palavras mal ditas. O cheiro do cabelo dela era tipo droga que me entorpecia de tesão e de querer... Tipo montanha russa, me prendia naquelas loucuras, o frio na barriga de quando a montanha russo começa a pegar uma distância do chão considerável, era assim que me sentia ouvindo aquela respiração ofegante, aquele corpo pegando fogo, enfraquecida, ofegante, tremendo e me dizendo NÃO PARE. Foi de longe a intimidade mais louca de minha vida, me deixando assim a suplicar, desejar, imaginar e conjurar aquela pessoa mais uma vez em meu leito.

    ResponderExcluir

Postar um comentário